HERÁCLITO DE ÉFESO [535 a.C
– 475 a.C]
Prof. Raphael Douglas.
Tudo passa, nada permanece.
O que existe está em constante mudança.
A essência do mundo é a impermanência, tudo muda o tempo todo. Essa é a fórmula
filosófica de Heráclito de Éfeso, importante filósofo pré-scrático. Para ele, tudo
o que existe está em permanente transformação, influência direta na teoria
evolucionista. A essa incessante alteração deu o nome de DEVIR. O mundo, segundo Heráclito, é um fluxo permanente em que
nada permanece idêntico a si mesmo. Isso explica por que sua mãe, ao consultar
antigos álbuns de família, pode se auto-estranhar e se questionar: “MEU DEUS,
EU ERA ISSO?” Tudo se transforma no seu contrário. “A guerra é mãe e rainha de todas as coisas”. É da luta entre os contrários, ou
seja, do devir, do tornar-se, do vir-a-ser, que eles se harmonizam numa
unidade. O mundo é uma constante guerra
entre os opostos. Conhecemos o doce dado que sabemos o que é o salgado. A
felicidade só pode existir uma vez que experimentamos a tristeza. A claridade
tem sua existência garantida já que o escuro também existe. “Tudo Flui”, afirmava Heráclito. Nossa
existência necessariamente obedece à etapas. Só podemos nos tornar crianças na
medida em que o bebê é negado. O adolecente que seremos só poderá contrair
existência quando negarmos a criança atual e assim por diante. A esse constante
movimento de negação e contradição, chamamos de DIALÉTICA. É o que leva Heráclito a afirmar que “é impossível entrar duas vezes no mesmo
rio”. Essa frase pode ser verdade em Recife, cujo Rio Capibaribe,
extremamente poluído, pode te matar num único pulo. Mas o que Herácito quer
dizer mais profundamente é que ao entrarmos num rio não nós será possível viver
aquele momento novamente. Ao voltarmos, as águas já não serão as mesmas e nem
nós seremos os mesmos. Afinal, a cada segundo, milhões de nossas células morrem
e outras milhões nascem. Heráclito pode nos ser uma bela lição de como suportar
o inevitável fim, a famosa finitude.
Mesmo sabendo que tudo um dia termina, experimentar
o fim e suas consequências não é lá nada tão fácil como nas fórmulas lógicas.
Lógico que enquanto duram, as coisas "não acabam". Um viva à falsa
sensação de eternidade! É triste, mas o sorriso da sua mãe um dia acaba, o
melhor amigo um dia muda de cidade ou enjoa de ser SEU amigo, toda espera tem
termo, aquela obturação feita há uma década cai, a música que te dá
comprazimento estético dura em média cinco minutos, a dor - por mais aguda que
seja - passa. A vontade, seja lá qual for o objeto, quando satisfeita, finda e
recomeça. O Parthenon um dia vai cair assim como o eterno Império Romano caiu.
A terra que sempre foi o centro do universo levou uma patada tripla com
Copérnico, Kepler e – finalmente - com Galileu e uma revolução (que já passou)
foi realizada. O conselho que pode ficar para nós pode ser resumido. Existir é entrar num rio cujo final é inevitavelmente
uma cachoeira de 1.000 metros de altura: sem dúvida se despencará, mas se você
tiver remos para manobrar nas partes mais lodosas evitarás que a caminhada
acabe antes do tempo numa colisão de frente com uma pedra, um tronco ou num
encontro com diversos predadores. E, sabendo remar sozinho, se conhecerão
caminhos mais autênticos, mesmo que não sejam os mais cômodos e os que todos
aqueles que não possuem remos seguem de maneira inadvertida e guiados por todos,
por ninguém.
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